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Verão mais chuvoso do que o normal em algumas áreas produtoras

A colheita da soja está começando nas principais áreas produtoras do Brasil, mas o clima já tem dificultado as atividades em alguns estados. É o caso de Mato Grosso, que enfrentou muita chuva, principalmente entre a primeira e a segunda semana de janeiro, devido à atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), fenômeno comum no verão, caracterizando por um intenso corredor de umidade que costuma provocar chuvas volumosas e duradouras sobre as áreas de atuação, muitas vezes configurando períodos de invernada.

 

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Foto/Reprodução Getty Images

 

Algumas áreas entre o Sudeste e o Centro-Oeste, onde já costuma chover muito em janeiro e o volume normal para o mês se aproxima de 300mm, algumas localidades registraram desvio de mais de 150mm acima da média antes de fechar o mês. Além das chuvas paralisarem momentaneamente as atividades no campo, os períodos de tempo fechado também impactam o desenvolvimento das lavouras, já que com menores períodos de luminosidade o ciclo da cultura prolonga.

 

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Precipitação acumulada e desvio da precipitação de 01 a 26 de janeiro de 2023. Fonte: INMET e análise Climatempo.

 

  • INFORMAÇÕES SOBRE AS LAVOURAS DE SOJA E A COLHEITA ATÉ O MOMENTO

 

Em Mato Grosso, o ritmo da colheita nas lavouras na primeira quinzena de janeiro era de 1,79 p.p., atrás do observado na safra 21/22 e 1,17 p.p. em relação à média dos últimos cinco anos segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). A área colhida passava de 2% no Estado.

 

Com o grande volume de chuvas e a baixa luminosidade nas últimas semanas, o ciclo da soja aumentou em algumas regiões, o que dificultou a retirada da oleaginosa. Apesar das interrupções na colheita, devido às precipitações ocorridas principalmente na primeira quinzena de janeiro, não foram relatadas perdas de qualidade do grão. As lavouras têm apresentado boas produtividades e as que se encontram na fase de enchimento de grãos apresentam ótimo desenvolvimento. No Paraná, a colheita teve início na segunda quinzena de janeiro, porém, ainda de forma pontual. A expectativa é que a partir da primeira semana de fevereiro ganhe volume. A safra apresenta um atraso em seu ciclo, devido ao plantio um pouco mais tarde e fatores climáticos no desenvolvimento das plantas.

 

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Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o tempo mais chuvoso no Sudeste prejudicou o desenvolvimento de algumas lavouras. Em Minas Gerais, o excesso de chuvas causou abortamento de flores, principalmente no terço inferior das plantas. Além disso, a alta umidade, associada a temperaturas amenas, aumentou a incidência de doenças fúngicas, principalmente o mofo-branco. Mas, apesar do excesso de chuva impactar o início da colheita em algumas áreas e trazer danos pontuais para lavouras, as chuvas de uma forma geral foram favoráveis para a manutenção da umidade no solo e a grande maioria das lavouras que ainda se encontra em desenvolvimento vegetativo e enchimento de grãos apresenta bom desenvolvimento, como mostra o mapa de condições das lavouras da CONAB. A exceção é o Rio Grande do Sul, que vem enfrentando uma estiagem prolongada, devido aos efeitos do fenômeno La Niña, que influencia o clima pelo terceiro verão consecutivo.

 

A falta de umidade no estado ainda não permitiu a finalização do plantio da soja. Segundo a EMATER – RS entramos na última semana de janeiro com 98% da área semeada no Estado. O desenvolvimento das lavouras é bastante desigual, influenciadas também pelo tipo de solo e época de semeadura. Em algumas áreas, as lavouras apresentam encurtamento de ciclo, redução de estande, amarelecimento das folhas basais e perdas de produtividade.

 

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Condição das lavouras de verão nas principais regiões produtoras. Fonte: CONAB

 

  • O QUE ESPERARAR PARA A COLHEITA ENTRE FEVEREIRO E MARÇO

 

A partir de fevereiro, os produtores aceleram a colheita da soja nas principais áreas produtoras do Brasil e com um padrão parecido com o mês de janeiro, que vai favorecer a concentração da umidade sobre o centro-sul do país, as chuvas tendem a ficar acima da média em alguns estados e podem impactar as atividades de colheita da soja em alguns momentos.

 

Sobre o Sul do País, o desvio positivo mais acentuado ainda é esperado para o Paraná, enquanto no Rio Grande do Sul, apesar das chuvas mais regulares previstas, algumas áreas, como a fronteira oeste e região da Campanha, ainda não terão volumes suficientes para cessar a estiagem prolongada. O Estado Gaúcho deve apresentar redução da produtividade das culturas de verão, devido à escassez de umidade, enquanto o Paraná, que deve ter chuvas mais volumosas e frequentes, pode enfrentar problemas na fase inicial da colheita da soja, devido ao excesso de umidade. Outros Estados que podem ter problemas em alguns momentos para as atividades de colheita, devido à expectativa de chuvas acima da média, são Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e áreas mais ao sul de Goiás e Mato Grosso. Inclusive, nestas áreas não se descarta a ocorrência de períodos de invernada, com dias consecutivos de chuvas e com ligeiro declínio da temperatura máxima.  Já a metade norte, entre Goiás e Mato Grosso deve registrar chuvas mais espaçadas e abaixo da média em fevereiro e a colheita deve avançar bem nestas áreas. Ainda em fevereiro, são esperados volumes abaixo da média em parte do Matopiba, especialmente no Tocantins e sul do Maranhão e interior do Piauí, além da maior parte do Estado do Pará e norte do Amazonas.

 

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Anomalia da precipitação prevista para o mês de fevereiro. Fonte: Climatempo.

 

Em março, a umidade volta a ficar mais concentrada sobre a metade norte do Brasil e são esperadas chuvas acima da média entre o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e grande parte das regiões Norte e principalmente Nordeste do país. Março já não costuma ser tão chuvoso como os meses anteriores sobre a área central do Brasil, mas ainda assim as regiões que terão chuvas acima da média podem enfrentar problemas momentâneos na colheita, especialmente áreas que colhem mais tarde, como o Matopiba. Por outro lado, as chuvas devem ajudar na manutenção da umidade do solo para as lavouras de milho segunda safra do interior do Brasil. Já na região Sul, Mato Grosso do Sul e em São Paulo, o padrão volta a mudar e as chuvas novamente devem ocorrer de forma mais espaçada, com volumes próximos da média ou ligeiramente abaixo da média. Nestas áreas a colheita de grãos das culturas de verão e o início do corte e moagem da cana-de-açúcar devem ser beneficiados.

 

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Anomalia da precipitação prevista para o mês de março. Fonte: Climatempo

 

Texto produzido por Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo.

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